Este livro, um estudo sobre o fluxo de representações da doméstica na literatura brasileira e, sobretudo, dos usos \"estratégicos\" [...] dessas representações - é portanto o primeiro a recuperar um espectro variado e complexo das inclusões literárias dessa categoria social e profissional. Inicialmente, toma como base a obra de Júlia Lopes de Almeida para analisar a inserção da criada nos discursos sobre a domesticidade nos anos pós-abolicionistas da Belle Époque (1889-1914). Em seguida, a obra investiga o resgaste dos mitos românticos da mãe preta e da mucama mulata pelo discurso ideológico modernista da mestiçagem (particulamente presente nos textos de José Lins do Rego, Carlos Drummond de Andrade e Gilbeto Freyre), mais tarde ambivalentemente problematizados pelo tratamento da doméstica no jornalismo de Clarice Lispector. Finalmente, é feito um estudo da literatura produzida por empregadas domésticas sob o influxo das políticas de solidariedade de um intelectual gestor, em especial os testemunhos da ativista política Lenira Carvalho, literatura esta decorrente da emergência dos movimentos populares sociais, especificamente a luta política das domésticas.